Arlindo Villaschi - Professor Titular aposentado da Ufes
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A dimensão, intensidade e pluralidade da crise pela qual passam todos no mundo - independentemente de onde habita, etnia, faixa de renda, escolaridade, ou qualquer outro tipo de distinção que se queira fazer entre humanos - indica que ela só será superada se um novo padrão de relações socioeconômicas emergir. Enquanto pandemia, já se sabe que o caminho a percorrer começa com o afastamento social e vai na direção da busca de vacina fruto do trabalho colaborativo entre equipes de pesquisadores em escala mundial.
Colaboração voltada para o bem comum e que por isso deve ter seus resultados transformados em produtos livres de qualquer tipo de apropriação sob a forma de patente. Procedimento que deve se tornar padrão quando novos medicamentos e equipamentos desenvolvidos de forma cooperativa e voltados para a saúde de todos deixem de ser objeto de lucro empresarial e passem a ser acessíveis a todos que deles precisarem.
A dimensão econômica da crise - que é anterior à pandemia - exige negociações entre nações que precisam exercer sua soberania de forma multilateral e na direção de desmitificar o dogma da supremacia do livre mercado. Supremacia que impõe os interesses financeiros em detrimento daqueles de empresas produtivas - principalmente as de micro, pequeno e médio portes.
Interesses que se colocam acima da soberania de países e que utilizam seu poder financeiro na cooptação de governos no mundo e que colocam a humanidade em risco diante da possibilidade concreta de colapso climático. Tudo na esteira da destruição de biomas como a que vem se acelerando na Amazônia brasileira.
Junto com biomas vão formas que grupos humanos desenvolvem há séculos de se organizarem política, social, cultural e economicamente. Tudo em nome de uma pasteurização que interessa a poucos grupos que crescem na dominação em escala mundial nestes tempos de financeirização globalizada.
Diante desse quadro é melhor buscar alternativas outras para além da volta ao normal prevalecente até janeiro ultimo. Por tudo o que indica o conhecimento acumulado em diversas áreas do saber, a normalidade de antes da pandemia beira a distopia, porta pouco futuro, se algum.
Melhor usar o 'freio de arrumação' a que todxs estamos em maior ou menor grau expostos desde janeiro deste ano para buscarmos enquanto humanidade construir novas utopias. Desejar um futuro diferente e melhor do que o passado legou ao presente é um ato de coragem que precisa ser refletida na indignação coletiva. Indignar-se com o que aí está na economia e na forma como os humanos se relacionam entre si e com os demais seres viventes.
É o primeiro passo a ser dado na direção do inalienável direito à esperança.